quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Presidente da Câmara, vereador Milton Leite age na prática como líder do governo, censura projetos polêmicos na pauta e vota apenas homenagens, denominações e datas comemorativas

Retirados da pauta diversos projetos considerados polêmicos pelo presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Milton Leite (DEM), restou ao plenário aprovar apenas homenagens, denominações e datas comemorativas distribuídas num total de 28 PLs (Projetos de Lei) e PDLs (Projetos de Decretos Legislativos) de autoria dos vereadores nesta quarta-feira, 16 de agosto.

Diversos parlamentares - tanto da base do governo quanto da oposição - criticaram a "censura" do presidente a inúmeros projetos, ou seja, a atitude de retirar da pauta unilateralmente aquilo que ele entende que não deve ser votado, seja por não haver consenso na Casa, seja por criar algum tipo de pressão ou constrangimento ao governo do prefeito João Doria (PSDB).

Reclamaram que tiveram projetos retirados da pauta, por exemplo, os vereadores Reis, Arselino Tatto, Police Neto, Adilson Amadeu, Celso Jatene e até mesmo o líder do governo, Aurélio Nomura. Os mais exaltados foram Tatto, Reis e Jatene contra a atitude do presidente da Casa, mas não havia clima nem maioria para votar nada além de honrarias e denominações.

Na prática, a liderança de governo vem sendo exercida pelo próprio Milton Leite, tanto na presidência da Câmara quanto na eventual interinidade à frente da Prefeitura durante as constantes viagens do prefeito João Doria e do vice-prefeito Bruno Covas.

Um diálogo com o petista Reis demonstra como Milton Leite age de acordo com os interesses do governo. Leia abaixo a transcrição:

REIS (PT) – Sr. Presidente, na data de ontem, o PL 508/2016 estava na pauta. Ligaram para a minha Assessoria e falaram que V.Exa. pediu para tirar e dar um outro número de projeto. Agora a minha prioridade é o PL 508/2016, porque é um pedido do Frei Davi, do Cursino, de pessoas pobres, que realmente precisam de transporte.

PRESIDENTE (Milton Leite - DEM) – Eu não queria discutir o objeto, nobre Vereador. Há um pedido... a Prefeitura, que está com 3 bilhões de subsídio. Não há mais dinheiro no cofre para estourar. O cofre já está estourado. Não vou discutir o objeto. Por isso, eu estou tentando fazer com V.Exa. Talvez numa outra oportunidade, nobre Vereador.

REIS (PT) – Sr. Presidente, é uma prioridade do meu mandato aprovar esse projeto. Se o Sr. Prefeito vai vetá-lo, é outra coisa, mas nós temos as nossas proposituras e queremos que elas... Então, votem nominalmente. Não há problema. Se for derrotado aqui no Plenário, não há problema, mas é um pleito meu, para que esse projeto realmente seja analisado, discutido e aprovado nesta Casa.

PRESIDENTE (Milton Leite - DEM)
– Nobre Vereador, V.Exa. sabe. Houve o mandato inteirinho do passado para votar esse projeto e outros projetos. Esse projeto pesa. A gratuidade não aguenta mais, nobre Vereador. Eu reconheço. Se dinheiro houvesse no caixa, eu entendo que seria possível. No momento, nós estamos com 3 bilhões de subsídios, de gratuidade, nobre Vereador. Não há mais o que estourar o cofre. Já estouraram.

REIS (PT) – Sr. Presidente...

PRESIDENTE (Milton Leite - DEM) – Já está estourado.

REIS (PT) – Sr. Presidente, em sendo aprovado em primeira, não vai produzir resultados imediatos.

PRESIDENTE (Milton Leite - DEM) – Neste momento, eu estou fazendo um apelo a V.Exa., para colaborar, que nós votemos outros 60, inclusive de V.Exa. Votemos os outros, nobre Vereador, para que permitam que votem todos. Até mais que um, tem denominação. A Presidência não criou problemas. V.Exa. sabe disso. Fiz um esforço para votar. Não criei problemas. Esse impacto é difícil, nobre Vereador.

DALTON SILVANO (DEM) – Nem o Sr. Haddad aprovou. É de 2016

PRESIDENTE (Milton Leite - DEM)
– Conforme entendimentos...

REIS (PT) – A CCJ colocou, neste ano, na pauta.

PRESIDENTE (Milton Leite - DEM)
– Nobre Vereador Reis, V.Exas. tinham controle de toda sessão no ano passado. Podiam ter votado.


E encerrou-se assim a discussão, com o presidente Milton Leite simplesmente retirando, por vontade própria (com base regimental, já que ele possui a prerrogativa para definir a pauta), este e outros projetos da ordem do dia. Simples assim. Houve chiadeira geral. O assunto será discutido novamente na próxima reunião do Colégio de Líderes, quando os vereadores se reúnem para estabelecer a pauta das sessões extraordinárias, as prioridades de cada bancada e as estratégias da situação e da oposição. O clima segue ruim.