terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Vereadores aprovam reajuste salarial após informarem imprensa que tirariam o assunto da pauta e apanham feio da opinião pública

Como era previsto, os vereadores de São Paulo aprovaram o próprio reajuste salarial para os próximos quatro anos - e, obviamente, estão tomando uma surra virtual nas redes sociais e na imprensa.

Também foi aprovado o Orçamento da Cidade para 2017, com a inclusão das emendas negociadas com os 55 vereadores da atual legislatura e os 22 novos, que assumem a partir de 1º de janeiro.

Dizíamos isso aqui ontem: Com ou sem aumento, que pode ser votado nesta terça, dia 20, vereadores já perderam batalha com opinião pública.

O que não dá para entender, sinceramente, é como os vereadores se queimam tanto por tamanha falta de habilidade e de argumentos.

Tiraram o assunto da pauta, anunciaram para a imprensa que o reajuste não seria mais discutido e, como todo mundo que conhece os bastidores da Casa já sabia, na última hora os vereadores fariam manobra no plenário para votar o aumento. Dito e feito.

Então, por que anunciar que não votariam? Fica sempre a imagem de que o povo está sendo enrolado...

É perfeitamente defensável o reajuste salarial com base na inflação. É a simples reposição do poder aquisitivo. Ok, mas o que fica difícil de engolir é por que todo o funcionalismo público não tem esse mesmo direito. Em vez disso, tem de se contentar com injuriosos 0,01% de reajuste. Realmente, uma afronta ao bom senso.

O vereador Ricardo Young (Rede), que não foi candidato à reeleição e também não participou da sessão desta terça-feira, soltou uma nota pública onde explica por que apoiou o reajuste na sessão que não atingiu o quorum mínimo na última sexta-feira: 
A abordagem que os veículos de comunicação estão dando à questão do reajuste salarial dos vereadores mais desinforma do que esclarece a população. 
Votei favorável à resolução 12/2016, de autoria da mesa diretora, porque considero legítimo o direito de trabalhadores terem seus salários reajustados de acordo com a inflação. E é disso que trata a matéria. Não há aumento de salário e sim reposição da inflação dos últimos quatro anos, período em que a remuneração dos parlamentares permanece congelada, já que a lei não permite o reajuste em meio de legislatura. 
Votei sim por convicção, porque considero justo. Seria mais fácil votar contrário, já que não estarei lá nos próximos anos? Seria. Mas seria igualmente demagógico. Há muitos fatores a serem considerados nesse posicionamento e tratar da forma rasa que a mídia está tratando é um desserviço. 
O salário líquido de um vereador na cidade de São Paulo atualmente, sem o reajuste, é em torno de R$ 11 mil. Com o reajuste subirá para em média R$ 15 mil. São valores que se assemelham ao pago à diretores de empresas de médio porte na cidade. Se queremos que pessoas de qualidade exerçam a função, precisamos oferecer remunerações compatíveis. O vereador ganha 80% do salário de um deputado estadual, que por sua vez ganha 80% do valor pago aos deputados federais. A remuneração dos parlamentares do município está também muito abaixo do teto, que é o valor pago ao prefeito, secretários e subprefeitos. 
A vereança em São Paulo é um trabalho árduo e a dedicação exigida é incompatível com o exercício de outras atividades profissionais. Não remunerar bem os vereadores é o mesmo que restringir a função àqueles que possuem outras fontes de renda já estabelecidas. 
Além disso, outras funções exercidas na Câmara, como a chefia de gabinete, recebem reajustes anuais, o que leva estes cargos a receberem hoje mais que o próprio parlamentar. 
Reposição da inflação é direito básico do trabalhador não há justificativa cabível para negar aos parlamentares esse direito por mais quatro anos. A falsa alegação de enxugar a máquina é falaciosa, pois não haveria impacto significativo na medida. Alguns dizem que seria simbólico, eu insisto que seria demagógico.

Concorde-se ou não com o reajuste dos salários, é inegável que os argumentos de Ricardo Young são coerentes. Mas a maioria dos vereadores simplesmente se cala e reforça o distanciamento entre a Câmara e a população. Triste.