quarta-feira, 29 de novembro de 2017

"Stranger Things" - Episódio de hoje: Câmara Municipal de São Paulo

Muitas "coisas estranhas" costumam acontecer na Câmara Municipal de São Paulo. Até histórias de fantasmas que assombram o Palácio Anchieta, no centro velho da cidade, são bem conhecidas dos paulistanos.

A última, em tom de lenda urbana, foi revelada primeiro pela Rádio CBN, na semana passada (ouça aqui), e é recontada hoje (com direito à chamada de 1ª página na Folha de S. Paulo) pela experiente repórter Cátia Seabra.

O enredo surreal dispensa comentários.

Cada um faça a sua leitura e livre interpretação.

Leia a matéria na íntegra:


Assessor da gestão Doria recebe envelope com R$ 3.000 de vereador




O vereador Camilo Cristófaro (PSB) entregou R$ 3.000 a um assessor político da secretaria de Transportes da gestão João Doria (PSDB), que foi afastado do cargo e motivou a abertura de uma investigação pela Controladoria Geral do Município.

O dinheiro foi levado na noite de quinta (23), dentro de uma sacola da Gucci, pelo até então assessor político Elizeu Lopes ao gabinete do titular da pasta, Sérgio Avelleda.

Lopes havia acabado de receber a quantia do vereador –que integra a base aliada de Doria, mas tem feito ataques ao secretário de Transportes.

Avelleda, "ao tomar contato com a embalagem, acionou imediatamente a polícia" e determinou ainda que ninguém deixasse a sala, de acordo com sua assessoria.

"O delegado presente, ao ouvir os envolvidos, entendeu não ser necessária a elaboração de um boletim de ocorrência, por não existir a evidência de um crime", disse a secretaria em nota.

A pasta afirmou ainda que Avelleda avisou a Controladoria e "determinou ao assessor a devolução imediata" do dinheiro ao vereador. Cristófaro, porém, disse não ter aceitado os R$ 3.000 de volta.

Lopes, que foi afastado da função, alega ter havido um "mal-entendido". Ele diz ser filiado ao PC do B e amigo de Cristófaro há 18 anos, apesar das diferenças políticas. Afirmou à Folha não acreditar ter havido má-fé do vereador.


TELEFONE

Segundo a versão da secretaria e do vereador, Avelleda telefonou de seu gabinete, em viva-voz, para pedir explicações a Cristófaro –que alegou ter feito uma doação a Lopes.

À Folha o vereador afirmou que, há cerca de 40 dias, Lopes o procurou pedindo R$ 5.000 para pagamento de advogado em processo contra sua ex-mulher para obtenção da guarda dos filhos.

Naquele período, o vereador tinha começado a atacar publicamente o secretário de Doria, apelidando-o de Sérgio Haddad Avelleda, em uma alusão ao ex-prefeito Fernando Haddad (PT).

Cristófaro diz que, recentemente, o prefeito o procurou propondo uma trégua com o secretário. Segundo o vereador, Doria apelou para que ele suspendesse as críticas.

Na quinta-feira, segundo o vereador, Lopes esteve em seu gabinete, ao lado de outro funcionário da prefeitura, para agradecer. Cristófaro diz ter, então, levado o assessor do secretário a um caixa eletrônico do banco Santander, de onde sacou R$ 3.000.

O dinheiro, relata o vereador, foi guardado na embalagem que abrigava um chaveiro recebido de presente de aniversário recém-completado.

Cristófaro disse ter frisado que aquela era uma doação para os filhos de Lopes.

"Repeti isso. Tenho culpa se ele é burro?", afirmou o vereador à reportagem.

"Eu estava tão feliz com a trégua dada [em críticas de Cristófaro à secretaria de Transportes] que nem percebi que o presente era para mim", disse Lopes à Folha.

Segundo Cristófaro, de tão nervoso, Lopes se internou no hospital da noite de quinta, de onde saiu na sexta (24).

'FARIA DE NOVO'

Nesta segunda-feira (27). Lopes esteve no gabinete na Câmara para a devolução do dinheiro, mas o vereador não aceitou. "Fiz e faria de novo. Foi uma doação a um amigo", afirmou Cristófaro.

"Qual seria outra hipótese? Dar R$ 3.000 a um secretário que é meu inimigo. Acho que o Avelleda nem vale R$ 1.000", afirmou à Folha.

O vereador, que está em seu primeiro mandato, já se envolveu em outras polêmicas na Câmara neste ano.

Em março, a vereadora do PSOL Isa Penna disse ter sido empurrada e xingada de "vagabunda" por Cristófaro dentro do elevador da Câmara. Ele diz que não houve ofensa.

Em junho, Cristófaro deu um tapa em um assessor do vereador Eduardo Suplicy (PT) –ele alegou ter somente tirado o celular da mão do rapaz depois de vê-lo agredindo uma assessora.