Apresentado o requerimento de abertura da "CPI da Máfia da Cidade Limpa" pelo vereador Eduardo Tuma (PSDB), com apoio da oposição (PT e PSOL) e do chamado "centrão" (grupo de vereadores de diversos partidos da base que negociam ponto a ponto os projetos de interesse do Executivo), o líder do governo na Câmara Municipal de São Paulo, vereador Aurélio Nomura (PSDB), apressou-se em sinalizar que a investigação será de fato aprovada.
As prefeituras regionais representam um ponto nevrálgico da gestão do prefeito João Doria. Apesar da mudança de nome (de subprefeitura para prefeitura regional), o conceito e a prática dessas administrações locais dos bairros não mudam há décadas: seguem loteadas entre os partidos e vereadores da base governista, que indicam os principais cargos (subprefeito ou prefeito regional, chefe de gabinete e coordenadores setoriais) e controlam a "máquina" (administrativa e orçamentária) nas suas áreas de atuação.
Com verbas contingenciadas em decorrência da crise e autonomia política limitada pelo prefeito e pelo vice, Bruno Covas, que é também secretário das Prefeituras Regionais, acabam funcionando esquemas paralelos de arrecadação, com a participação de assessores vinculados aos vereadores e funcionários de carreira que atuam na fiscalização de irregularidades (desde obras residenciais até a propaganda de rua, regulamentada pela chamada Lei da Cidade Limpa, alvo do mais recente esquema de corrupção flagrado na cidade).
A aprovação da CPI atende tanto aos interesses da oposição (que mantém na pauta um assunto crítico à atual gestão), do centrão (que valoriza o passe na barganha com o governo) e da própria base de sustentação do prefeito, que se esforça para demonstrar imparcialidade e a intenção de punir os envolvidos, mesmo que atingindo diretamente alguns de seus apoiadores (como é o caso do chefe de gabinete da Lapa, Leandro Benko, irmão do ex-vereador e atual secretário estadual de Turismo, Laércio Benko, responsável pelo apoio do PHS tanto a João Doria quanto a Geraldo Alckmin).
Aliás, leia aqui a defesa de Leandro Benko - divulgada pelo irmão. Ele alega inocência, mas apresenta argumentos difíceis de colar. O prefeito regional da Lapa também se manifestou prontamente sobre o assunto (veja aqui), defendendo o combate integral à corrupção.
O ex-chefe de gabinete, flagrado pela reportagem da Rádio CBN, foi o primeiro funcionário exonerado. Outros suspeitos e envolvidos estão sendo identificados e afastados pela Prefeitura. A CPI, quando aprovada, deve começar os trabalhos ouvindo todos os citados na matéria.